Cedae quer contratar 70% de seu consumo de eletricidade no mercado livre para reduzir gasto em 30%

Estatal de saneamento do Rio segue responsável pela captação e pelo tratamento de água, operação intensiva no consumo de energia elétrica; conta de luz de 2021 foi de cerca de R$ 1 bilhão

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RIO - A Cedae, estatal fluminense de saneamento, que segue responsável pela captação e pelo tratamento de água após a concessão dos serviços no Rio, deverá lançar, ainda este ano, licitação para comprar energia elétrica no mercado livre, afirmou nesta terça-feira, 22, o presidente da empresa, Leonardo Soares. O executivo acha possível que, já em 2023, o mercado livre responda por cerca de 70% do consumo da empresa. Dependendo dos preços obtidos na licitação, a medida poderia resultar numa redução de 30% nos gastos com eletricidade.

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A energia elétrica é um dos principais insumos da Cedae. Em 2021, a conta de luz ficou em torno de R$ 1 bilhão ao ano. Economizar com esse item é, portanto, fundamental para a estatal se adequar a uma nova realidade, trazida pelo processo de desestatização dos serviços de saneamento no Estado do Rio. No novo modelo proposto pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que desenhou a desestatização, os serviços de água e esgoto foram separados entre “produção” – captação e tratamento – e “distribuição”.

A distribuição de água tratada, a coleta e o tratamento do esgoto, além da relação comercial com os clientes, são concedidos a operadores privados – no Rio, três consórcios, cada um liderado por algumas das principais empresas do setor, levaram as quatro áreas de concessão, nos leilões realizados em abril e dezembro de 2021. A captação e o tratamento da água, fornecida aos operadores privados, seguem com a estatal. Além do Rio, o BNDES testou esse modelo na desestatização do saneamento em Alagoas, a primeira após a aprovação do novo marco regulatório do setor, em 2020.

O presidente da Cedae, Leonardo Soares, trabalhar para tornar a empresa mais enxuta, cortando custos Foto: Pedro Kirilos/Estadão

“Deixamos de ser uma empresa que atende no ‘B2C’ (business-to-consumer, ou seja, um negócio que atende o cliente final) e passamos a ser ‘B2B’ (business-to-business, ou seja, um negócio que atende a demanda de outras empresas). Captamos a água, tratamos e vendemos para as novas concessionárias para que elas possam fazer a distribuição. Esse é o nosso novo modelo de negócios. De lá para cá, refizemos todo o nosso plano de negócios”, resumiu Soares, em entrevista durante uma visita às unidades operacionais da Cedae, incluindo a Estação de Tratamento de Água (ETA) do Guandu, considerada a maior do mundo.

O plano de negócios passa por reduzir custos, tornando a operação mais enxuta, porque, no novo modelo, a receita da Cedae vai despencar. Antes das concessões, a receita anual da empresa era de cerca de R$ 6 bilhões ao ano, segundo Soares. Nesta terça-feira, 22, o executivo estimou que, sob o novo modelo, o valor cairá para pouco mais de R$ 3 bilhões. Em fevereiro, Soares disse ao Estadão que o valor poderia descer até R$ 2,2 bilhões ao ano.

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Além da contratação de energia no mercado livre, a Cedae pretende publicar, no primeiro trimestre do próximo ano, o edital para selecionar o operador de uma parceria público-privada (PPP) para implementar um plano de eficiência energética. O plano inclui, além de medidas para redução do consumo de eletricidade, a construção de uma usina de energia fotovoltaica, que ficará ligada ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e também fornecerá para a Cedae.

Somadas, as ações para cortar os gastos com eletricidade poderão levar a economia a 40%, como já havia mostrado o Estadão em fevereiro.

Funcionários

Outro insumo cujos gastos precisam ser adequados é o quadro de pessoal. O plano de negócios concluído no início deste ano indica que, mais enxuta, a Cedae precisará de entre 2,5 mil e 3 mil funcionários, disse Soares. Atualmente, a estatal tem cerca de 3,2 mil empregados. Antes das concessões, eram em torno de 5 mil – as reduções mais expressivas foram em 2020 e 2021, quando foi aberto um plano de demissão voluntária (PDV).

Funcionário da Cedae nos subterrâneos da Elevatória do Lameirão, infraestrutura construída nos anos 1960, para levar a água produzida na ETA do Guandu até a zona sul da capital fluminense, num trajeto de pouco mais de 40 quilômetros de dutos Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Segundo Soares, a diretoria da Cedae ainda não decidiu se fará novos PDVs, para chegar aos números indicados no plano de negócios. A empresa está passando a limpo a administração de horas extras dos empregados, que, segundo o executivo, seriam excessivas.

Além disso, o modelo mais enxuto prevê a geração de receitas com novas atividades, como a prestação de serviços de análise laboratorial de qualidade de água para terceiros, que poderão exigir número maior de funcionários do que o previsto no plano de negócios. Somente após avaliar os efeitos dessas duas ações a diretoria da Cedae chegará a uma conclusão final sobre o tamanho ideal do quadro de funcionários.

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